Visita ao Museu da Guerra Colonial
Uma história que queremos contar
Na missão de reportar sobre as novidades em torno da ADFA, o ELO mostra o privilégio de visitar o espaço que faz parte do legado presente e futuro dos deficientes militares, o Museu da Guerra Colonial. São notas sobre uma visita de trabalho, com pouquíssimo espaço para contar o muito que o visitante pode (re)encontrar em cada aspecto da exposição, fruto de trabalho científico dedicado à Memória e à Vida, em homenagem a quem serviu e serve a Pátria.
O ELO aproveitou a celebração do aniversário da Delegação de Famalicão para, a pedido da Direcção do Museu da Guerra Colonial e da Delegação, realizar um levantamento fotográfico do acervo museológico patente nos seus diversos núcleos expositivos.
O dia 18 de maio foi todo dedicado a esse trabalho, tendo a equipa de reportagem do ELO sido sempre acompanhada pelo director do Museu, associado Manuel Ferreira, pelo coordenador científico, professor Manuel Lages, pelo associado dirigente Augusto Silva e pelo associado Fernando Carvalho, que animadamente esclareceu e enquadrou a visita.
Por coincidência ou não, a visita do ELO decorreu no âmbito da celebração do Dia Internacional dos Museus. As peças históricas e documentação disponíveis na exposição permanente do MGC chamam o visitante para um contacto imediato com a realidade de quem viveu Portugal durante a Guerra Colonial, em todas as vertentes militares, profissionais, sociais e políticas desse período da história recente de Portugal.
A importância e o valor histórico de todos os artigos ali expostos são de “extrema relevância”, referiu o director do ELO, José Diniz, que também já contribuiu com algumas peças para o seu conteúdo expositivo e que realçou a vertente pedagógica que sempre foi desenvolvida pelos responsáveis do Museu.
No acervo museológico estão, por exemplo, um helicóptero Allouette que foi cedido pela Força Aérea, duas viaturas ligeiras militares, material relacionado com as transmissões e comunicações em campanha, armamento e fardamento e peças que, tendo pertencido aos militares em armas na guerra, ainda têm vestígios do sangue vertido nas picadas, bolanhas e territórios de combate.
Logo à entrada do Museu, uma colecção de miniaturas de viaturas militares da autoria do major modelista Nogueira Pinto, onde pode ver-se Berliet, Unimog, Mercedes, um avião Nord-Atlas, e, entre muitas outras, algumas reproduções à escala de viaturas Chaimite e Panhard, como a que se encontra junto à fachada do Museu, que faz as delícias dos mais novos, que têm por vezes a oportunidade de vê-la por dentro.
Impressiona o visitante a quantidade e organização do acervo documental do Museu. Há livros e documentos que exemplificam ambos os lados do conflito. Uma passagem atenta e eis que o visitante pode ler, na caligrafia do próprio, uma nota organizativa de Agostinho Neto. Há emblemas de companhias e batalhões, o baú da guerra, a ração de combate, os aerogramas tão preciosos nessa altura como hoje, a lista-memorial dos que tombaram na Guerra Colonial. Cada espaço absorve a atenção de quem não viveu a guerra mas que recebe assim, pedagógica e didacticamente, informação valiosa e o testemunho de memórias que não é possível apagar. Fotografias de associados da ADFA, deficientes militares, combatentes, membros dos movimentos de libertação e outras, tantas outras, num enorme espaço que envolve sem oprimir.
Há estatística sobre os números da Guerra Colonial, há cronologia sobre Portugal, a Guerra e o Mundo, há sempre mais história, também nos espaços dedicados à criação da ADFA e suas delegações. Está ali, mesmo no meio do primeiro pavilhão, uma secretária e cadeira que a ocupação do Palácio da Independência pela ADFA, em 23 de novembro de 1974, preservou. Ali se celebra a queda do regime que forçou o prolongamento da guerra por tantos anos, mais de uma década, com tão desastrosos e dramáticos resultados.
O Museu não deixa esquecer a obra de associados como António Calvinho, fundador da ADFA, e o seu livro “Trinta facadas de raiva”, cuja edição mais recente, de 1999, impressa na Tipografia da ADFA aquando do 25º aniversário da ADFA e do 25 de Abril, contou com ilustrações que tiveram como base pinturas que a Associação adquiriu e que cedeu ao MGC.
Uma viagem pelos primeiros tempos da ADFA, onde também não falta o ELO. Uma das máquinas da Tipografia-Escola da ADFA, de composição a chumbo, foi também cedida para fazer parte do acervo, com o apoio dos transportes do Exército.
Nada fica esquecido, as memórias permanecem vivas no trabalho que o coordenador científico Manuel Lages e a pequena equipa do Museu têm desenvolvido, com documentação que vai sendo divulgada com cuidado e respeito pelos militares e suas famílias, os primeiros herdeiros desse legado tão relevante.
O Museu da Guerra Colonial cumpre todos os dias a sua nobre missão de testemunhar a memória ainda recente da Guerra Colonial e dos seus resultados. Na parede exterior há marcas de cor que modernizam a face estrutural do Museu.
É incontornável o enorme painel de mosaicos, produzido e oferecido, em 2104, pelo Centro de Actividades Ocupacionais em funcionamento na Delegação do Porto. A linguagem simbólica deste marco evocativo merece visita atenta e respeitosa, em homenagem a esse memorial.
Mais do que um espaço museológico de referência para todas as gerações, o Museu da Guerra Colonial é um ponto de encontro com a memória viva e com uma aprendizagem sobre a guerra, para que nunca se perca a Paz.